Mau tempo no coração

Mau tempo no coração

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Por trás das palavras

Acredito que é possível conhecer alguém por e-mail, se apaixonar por e-mail, odiar por e-mail, tudo isso sem jamais ter visto a pessoa.
As palavras escritas no computador podem muito. Mas nem sempre enxergam a verdade.

Na madrugada chuvosa, mal dormida, põe música suave e vai ao computador contar a alguém especial as coisas mais íntimas do coração. Chora. Escreve. Olha para a chuva. Escreve mais um pouco. Envia.
Longe, pela noitinha desse mesmo dia, o destinatário da mensagem está dando uma festa. Todo mundo fala alto, ri, a música toca alto. A pessoa pega uma cerveja e dá uma escapada até ao computador. Abre o correio. Está lá a mensagem. Um texto longo que ele lê com pressa. Destaca algumas palavras: "a saudade é tanta.... sozinha demais.... dividir o que sinto..."
Que conversa e eu sem tempo! Responderá amanhã. Distraído, deleta.

Alguém pode escrever com raiva, dor, ironia, dificuldade, debochando, apressado, por obrigação, com segundas intenções.
Nada disso chegará ao outro lado da tela: a pressa, a hesitação, a tristeza. As palavras chegarão desacompanhadas. Seria preciso confiar no talento do remetente em passar emoção junto de cada frase. Como pouquíssimas pessoas têm esse dom, uma mensagem sensível pode ser confundida com secura, tudo porque faltou um par de olhos, um tom de voz, uma presença.

Se você passou a desprezar alguém, pode escrever "não quero mais te ver". Se você ama muito alguém mas há falta de sintonia, magoada pode escrever "não quero mais te ver". A mesma frase e significados diferentes.
Os resumos dos sentimentos, para serem explanados, precisam mais do que um sujeito, verbo e predicado. Precisam de toque, visão, audição. Amor virtual é legal, mas o teclado ainda não dá conta de certas subtilezas.
(resumo dum texto de Marta Medeiros)

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